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Minas: 2 milhões de ucranianos em risco
A contra-ofensiva ucraniana sofreu alguns problemas na sua publicidade em Portugal que dificultaram a perceção pública da situação no terreno.
Um dos problemas está na alta expectativa criada no meio mediático. Esperava-se que a contra ofensiva seria equivalente a um Blitz onde as forças ucranianas conquistariam terreno muito rapidamente, e as forças Russas não teriam nenhuma alternativa a não ser recuar imensos quilómetros até perto da fronteira. Tal coisa não seria verdade e a comunicação ucraniana teve bastante cuidado em não dar essa impressão.
Todo o tempo de espera por armamento e o jogo diplomático em volta do mesmo permitiram à Federação Russa fortalecer as suas posições, e consolidar alguma vantagem na sua defesa. As forças ucranianas entretanto recebem aos poucos o armamento Ocidental, que não é apenas colocar no avião ou no barco e levá-lo até à frente de combate. Todo o armamento requer a montagem de toda uma cadeia logística, muita dela não nativa à Ucrânia. Esta cadeia envolve reabastecimento, transporte, segurança e muito segredo. Além disso tem de ser importado o conhecimento técnico.
Depois temos uma grande parte do território ucraniano virtualmente todo minado. Os mais atentos lembram-se dos efeitos sociais e ambientais que as guerras civis causaram em África, e o uso de minas foi ubíquo. O trabalho de desminagem continua até hoje. Na Ucrânia falamos de minas anti-pessoais e anti-veículos que causam danos horríveis e desnecessários a uma força que tente “despachar” o avanço. Este tipo de desvalorização da vida humana é mais natural à doutrina militar da Federação Russa, que pouco mudou desde a União Soviética.
Outro óbvio impedimento surgiu pouco antes da contra ofensiva: a destruição da barragem de Kakhovka. O rio Dnipro tornou-se ainda mais que uma dor de cabeça e a mudança do seu fluxo destruiu as vidas de milhares de habitantes.
Na última semana o bombardeio tornara-se tão destruidor que a Ucrânia foi obrigada a decretar evacuação obrigatória de cerca de 12.000 civis da área de Kupiansk. Ao mesmo tempo, Kyiv e outras grandes cidades continuam diariamente atacadas por drones e mísseis, aterrorizando a população com ataques noturnos [Fonte: Kyiv Independent].
A Ucrânia é neste momento o país mais minado do planeta Terra, e está com falta de sapadores e equipamento para limpar as linhas da frente. Adultos e crianças continuam a ser desmembrados por minas. Os soldados chegam a encontrar cerca de cinco minas por cada metro quadrado – em alguns sítios – ao longo de uma linha da frente de 1000km de defesas russas. As unidades de limpeza de minas são atingidas com artilharia, sendo hoje das maiores baixas entre as forças ucranianas. Soldados russos que matem estas unidades são recompensados. As minas estão logo a seguir à artilharia como principal causa de ferimentos nos soldados ucranianos, e civis também se tornaram vítimas.
Izium foi uma das regiões que o Movimento Juntos Pela Ucrânia conseguiu entregar ajuda humanitária. Profissionais de saúde reportaram mais de 50 civis, inclusive mais de cinco crianças feridas por minas anti-pessoais durante e após a ocupação russa. Metade sofreu amputações traumáticas dos membros inferiores [Fonte: HRW]. Nas zonas agrícolas de Kharkiv, Mykolaiv e Kherson, dezenas de acidentes relacionados com minas são reportados todos os meses.